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Como algumas pessoas que têm um emprego estressante conseguem evitar o burnout: 'É tudo uma questão de consciência'

O fenômeno do burnout deixou marcas destrutivas nos escritórios dos Estados Unidos e do mundo inteiro nos últimos anos, ao longo de uma pandemia global que obrigou as pessoas a enfrentar condições de trabalho estressantes e traumáticas, ao mesmo tempo que impulsionou mudanças nos cenários social, político e econômico.

Com o aumento dos casos, tanto os funcionários quanto os gestores têm enfrentado dificuldades. Um número surpreendente de pessoas se vê diante da síndrome de burnout, definida pela Organização Mundial da Saúde como um fenômeno ocupacional resultante do estresse crônico não gerenciado. No fim de 2022, cerca de 42 por cento da força de trabalho global declararam estar sofrendo de burnout, segundo o Future Forum, consórcio de pesquisa apoiado pela plataforma Slack. Além disso, conforme indicado em um relatório de abril de 2023 da Associação Americana de Psicologia, 77 por cento dos trabalhadores relataram ter sentido estresse relacionado ao trabalho no último mês, e 57 por cento afirmaram que, em decorrência dele, houve impactos negativos frequentemente associados ao burnout no ambiente profissional.

No entanto, apesar dos desafios inerentes a empregos de alta pressão, alguns funcionários conseguiram evitar o esgotamento. Ken Matos, diretor de ciência de pessoas da plataforma de recursos humanos Culture Amp, reconhece a complexidade de atribuir um número preciso a esse fenômeno, dado que poucas organizações e instituições de pesquisa possuem recursos para conduzir estudos longitudinais desse tipo. Mas é inegável que existem indivíduos capazes de se esquivar do burnout.

Para Kandi Wiens, codiretora do programa de mestrado em educação médica da Universidade da Pensilvânia e autora do livro Burnout Immunity: How Emotional Intelligence Can Help You Build Resilience and Heal Your Relationship With Work (Imunidade ao burnout: como a inteligência emocional pode ajudá-lo a desenvolver resiliência e curar sua relação com o trabalho, em tradução livre), identificar essas pessoas e o motivo pelo qual conseguem evitar o burnout é fundamental. Ao longo de sua pesquisa, entrevistando diretores médicos durante a pandemia, Wiens conheceu profissionais de saúde que não apenas o evitaram, mas foram capazes de se desenvolver nos ambientes de alto estresse dos hospitais. Essa experiência mudou sua crença de que "todo mundo sofre de burnout" "Ninguém é imune ao estresse. Todos nós o sentimos, seja ele bom, seja ruim ou qualquer outro tipo. Mas em todos os lugares há pessoas que são refratárias ao burnout", disse ela à Fortune.

Embora a maioria dos especialistas concorde que é impossível obter imunidade absoluta ao esgotamento, Wiens e outros argumentam que existem algumas ferramentas emocionais importantes disponíveis para a maioria das pessoas, que podem permitir que escolham a situação de trabalho certa e prosperem, mesmo sujeitas ao estresse. "É uma questão de se conscientizar, um processo de entender realmente a si mesmo e descobrir suas vulnerabilidades ao burnout com base na sua personalidade, no seu temperamento e no que você quer do trabalho", explica Wiens.

Autoconsciência e autorregulação

A teoria de Wiens é que as pessoas capazes de evitar o esgotamento são particularmente fortes em duas áreas da inteligência emocional: autoconsciência e autorregulação.

Segundo ela, o ser humano precisa de certo nível de estresse saudável, mas é importante estarmos cientes do que nos mantém nesse "ponto ideal de estresse" e o que nos leva ao limite. Citou o exemplo de um dos médicos que conheceu durante sua pesquisa; ele prosperou durante a pandemia, mas tinha consciência de que as condições estressantes em que trabalhava diariamente estavam dentro do seu nível de tolerância – o que não necessariamente se aplicava a outros médicos.

Indivíduos capazes de evitar o burnout também desenvolvem ferramentas de autorregulação bem-sucedidas para ajudar a evitar pensamentos, emoções e reações negativas quando o estresse no trabalho chega ao auge, de acordo com Wiens. Esses mecanismos de enfrentamento podem incluir pedir apoio a um amigo ou ente querido, praticar técnicas de respiração, exercitar-se, frequentar espaços verdes ou até mesmo lançar mão do velho método de chorar para liberar endorfina – qualquer recurso que os auxilie a se reorientar e administrar de forma saudável o estresse que estão sofrendo.

Christina Maslach, psicóloga e professora da Universidade da Califórnia, em Berkeley, que foi pioneira na pesquisa sobre burnout e cocriou o que muitos consideram a avaliação padrão ouro para o fenômeno, concorda que as pessoas capazes de evitá-lo desenvolvem várias estratégias para lidar com o estresse crônico no ambiente laboral. Também podem simplesmente ajustar seu relacionamento com o trabalho para que este seja mais adequado para elas. Isso inclui assumir menos encargos ou rejeitar tarefas adicionais, melhorar o relacionamento com os colegas e não ficar pensando constantemente no trabalho quando não estão lá.

Mas os especialistas com quem a Fortune conversou têm o cuidado de salientar que não existe esse negócio de super-herói do esgotamento. "Não existem 'pessoas especiais' que são 'imunes ao burnout' e outras que não são", afirmou Maslach em um e-mail à revista. Essa seria uma abordagem médica, segundo ela, mas o burnout não é classificado como diagnóstico médico oficial. Ela acrescentou que "imunidade" talvez não seja o conceito ideal para falar sobre como evitar esse problema: "Um dos problemas da abordagem médica é que ela enquadra a questão em relação a um único indivíduo, ou seja, 'quem está sofrendo de burnout', em vez de enquadrá-la como 'por que as pessoas estão sofrendo de burnout'. Não há problema em ajudar as pessoas a lidar com estressores crônicos, mas uma estratégia melhor e preventiva é fazer mudanças para eliminar ou reduzir esses fatores de estresse, para que as pessoas corram menos risco de esgotamento."

Michael Leiter, professor emérito da Universidade Acadia e pesquisador da síndrome de burnout que mantém estreita colaboração com Maslach, destaca que, embora seja útil ter autoconsciência e altos níveis de inteligência emocional, o que mais ajuda é ter um ambiente de trabalho que permita flexibilidade, pertencimento e respeito: "Treinar as pessoas para suportar ou tolerar um local de trabalho desrespeitoso seria uma estratégia catastrófica. O caminho a seguir seria desenvolver um ambiente de trabalho mais respeitoso."

Como criar um local de trabalho melhor

A síndrome de burnout é um grande problema para as empresas americanas.

Os funcionários desinteressados e os que não estão ativamente engajados custam ao mundo cerca de US$ 8,8 trilhões em perda de produtividade, de acordo com dados da Gallup. E, segundo uma pesquisa de Stanford, a gestão do estresse no local de trabalho está relacionada a cerca de oito por cento dos custos anuais com assistência médica e é responsável por cerca de 120 mil mortes por ano.

O esgotamento também está relacionado a mais do que apenas o ambiente de trabalho, o que torna o estudo do fenômeno ainda mais desafiador. Outros fatores, como a vida pessoal e os estressores individuais, podem afetar a chamada imunidade ao burnout.

"Existem várias alternativas para evitá-lo, mas é muito difícil apresentar provas concretas. Ao observarmos todas as pessoas que não desenvolveram burnout, não conseguimos determinar se todas seguiram as práticas adequadas ou não", afirma Jacqui Brassey, colíder do Instituto de Saúde McKinsey, organização sem fins lucrativos da empresa de consultoria McKinsey & Co. dedicada a aprimorar a expectativa e a qualidade de vida.

Talvez seja por isso que grande parte da pesquisa sobre burnout se dedica a explorar o que as organizações podem fazer para ajudar a promover ambientes e culturas de trabalho em que o esgotamento seja menos provável. Isso abrange aspectos como fortalecer o sentimento de pertencimento e propósito entre os colaboradores, estabelecer e incentivar limites saudáveis e oferecer flexibilidade e autonomia.

Contudo, a administração do burnout entre os líderes da organização também é crucial, conforme apontado por Melissa Doman, psicóloga organizacional que abordou o tema em um livro sobre o diálogo acerca da saúde mental no ambiente profissional. O estresse enfrentado pelos executivos, decorrente das pressões financeiras e de desempenho, os expõe a um maior risco de problemas de saúde, frequentemente associados ao burnout, como ataques cardíacos. Na visão dela, é essencial que os líderes desenvolvam ferramentas de inteligência emocional para uma gestão mais eficaz do estresse. "Não priorizar a saúde emocional dos líderes foi um equívoco", afirma Doman. Cada vez mais, há uma expectativa e uma necessidade de que os líderes possuam inteligência emocional, tanto para o benefício de seus funcionários quanto para o próprio bem. "Só porque alguém está em uma posição de liderança não implica automaticamente ter inteligência emocional", destaca ela.

Possivelmente, a solução reside em uma combinação de inteligência emocional individual e organizações que projetem ambientes de trabalho visando prevenir o burnout. "A conexão entre pessoas que relatam habilidades específicas e apresentam níveis mais baixos de sintomas de burnout é bastante significativa. Portanto, é uma combinação de ambos, mas também algo que claramente pode ser desenvolvido", observa Brassey.

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