As pessoas passam, em média, um terço da vida dormindo. E se esse tempo pudesse ser utilizado pelos funcionários para trabalhar – durante os sonhos? É exatamente isso que a Prophetic, startup mantida por investidores, fundada no início deste ano, quer ajudar os trabalhadores a fazer.
Por intermédio de dispositivo chamado "Halo", os usuários podem induzir um estado de sonho lúcido – que é a percepção consciente de que se está em um sonho. O objetivo é que as pessoas tenham controle sobre seus sonhos e possam usar esse tempo de forma produtiva. Como exemplo, um CEO poderia se preparar para uma próxima reunião, um atleta executaria jogadas e um webdesigner poderia criar novos templates. "A sua imaginação é o limite", disse Eric Wollberg, fundador e CEO da Prophetic, à revista Fortune.
Dispositivos que afirmam induzir estados de sonho lúcido não são novidade: faixas de cabeça, máscaras para os olhos e caixas com eletrodos ligados às têmporas são populares no mercado. Até alguns suplementos garantem eficácia. Mas, ainda assim, mesmo com muitos produtos não cumprindo o prometido, a demanda por novas tecnologias é grande em razão das possibilidades voltadas para a inovação e para a resolução de problemas, declarou um especialista em sonhos à Fortune.
O potencial do sonho lúcido reside menos na resolução de problemas específicos, e mais na exploração de novas e criativas maneiras de abordar assuntos antes impossíveis para alguém que está dormindo. Um matemático, por exemplo, pode não chegar a uma resposta numérica específica para uma equação enquanto dorme, mas o sonho lúcido permite que ele explore novas estratégias para solucioná-la quando estiver acordado.
Segundo a Prophetic, o Halo, ainda em versão experimental, consiste em um dispositivo em formato de faixa, usado como uma coroa. Funciona liberando feixes de ultrassom focados – ou ondas sonoras, semelhantes às usadas para monitorar a saúde de um bebê no útero – em uma região do cérebro relacionada à tomada de decisões e à consciência, responsável por iniciar o sonho lúcido. Para criar o Halo, a empresa está trabalhando com o fundador da Card79, Afshin Mehin, que projetou o dispositivo Neuralink N1 para a empresa de implantes cerebrais de Elon Musk.
Wollberg fundou a Prophetic em março, em conjunto com Wesley Louis Berry III, diretor de tecnologia que antes criava arte em realidade aumentada, a quem conheceu por intermédio de um amigo em comum. Wollberg trabalhou na Gnowbe, startup de Edtech, tecnologia educacional, apoiada pela 500 Global, e na Praxis, startup financiada pela Bedrock e pela Paradigm, que busca construir uma cidade futurista no Mediterrâneo. A Prophetic levantou US$ 1,1 milhão na rodada de financiamento da Série A da Escape Velocity, da O'Shaughnessy Ventures e da BoxGroup, empresas de capital de risco.
'Controle, é o que queremos'
Existem aqueles que são céticos em relação a essa tecnologia. "Não é tão simples assim", disse Antonio Zadra, professor de psicologia da Universidade de Montreal, especialista em sono e sonhos (e que tem sonhos lúcidos com frequência).
Ele acrescentou que, com outras tecnologias que induzem a esse estado de consciência durante o sono, as pessoas são capazes de entrar em estado de lucidez, mas podem rapidamente esquecer que estão sonhando ou ficar muito entusiasmadas e acordar. Ser capaz de controlar um sonho, o que vai além de alguém simplesmente perceber que está sonhando, é ainda mais difícil – algo que até sonhadores lúcidos experientes têm dificuldade de conseguir. Ter domínio sobre o sonho é vital para aplicações no âmbito profissional, como treinar para uma entrevista ou projetar um edifício. "Controle, é o que queremos", afirmou Wollberg à Fortune.
O Halo, assim como outros equipamentos, pode ajudar na indução de um sonho lúcido, mas é a combinação do dispositivo com outras técnicas de atenção plena (mindfulness) – prática que envolve estar consciente e focado no momento presente, como meditar, anotar os sonhos em um diário e visualizar o que acontecerá em um sonho antes de dormir – que pode ajudar as pessoas a alcançar esse ponto de controle enquanto sonham, explicou Zadra.
Em apoio a essa afirmação, Wollberg citou uma série de estudos que relacionam o nível de ativação do córtex pré-frontal com a capacidade de controlar um sonho. Em resumo, quanto mais estímulo houver, melhor será a capacidade dos usuários de controlar seus sonhos, disse ele. Muitos dos estudos recomendaram testes adicionais para confirmar as hipóteses.
O produto da Prophetic depende de pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Donders, centro de pesquisa cerebral na Holanda, que determinarão a frequência de ondas de ultrassom e quais áreas específicas do cérebro precisam ser estimuladas para induzir os sonhos lúcidos. A empresa espera obter esses dados entre março e junho de 2024 para começar a distribuição dos dispositivos um ano depois.
Wollberg estima que os Halos custarão cerca de US$ 1.500 a US$ 2.000 cada, e o produto pode ser reservado antecipadamente com um depósito reembolsável de US$ 100. Ele não revelou quantas pessoas já se inscreveram, mas mencionou que, nas primeiras semanas depois da abertura do sistema de reserva, os valores chegaram no patamar de "centenas de milhares de dólares em receita", dando a entender que a lista de espera está na casa dos milhares.